TAI CHI CHUAN
Por Mestre Shien
As Artes Marciais na cultura Chinesa são tão antigas quanto a própria cultura desse povo, datando das primitivas comunidades neolíticas.
Conhecida como Wushu, ou Gong Fu (Kung Fu), evoluiu para formas mais variadas e complexas e suas técnicas mais refinadas. O Chiaoti, uma forma de luta livre entre os soldados, e o Kanchiwu antiga dança executada com machado e escudo, são ambas, acreditam-se, estágios do desenvolvimento inicial do Wushu.
Ilustrações antigas, datas de 2200 anos atrás foram encontradas na tumba de um General da Dinastia Han (200 a. C.), apresentam homens e mulheres fazendo ginástica com postura de animais, observam-se exercícios respiratórios, posição de tigre, imitação de macaco, movimentos de pássaros, pose de urso e imitação do cervo, tendo sido executados sobre seda. Entretanto, anterior a essa época, consta uma antiga tradição, Huang Ti, o Imperador Amarelo (2700 a.C.) praticava uma técnica de exercício chamada TAO YIN (guia e comando) também chamada de T'u Na (expirar e inspirar), hoje conhecido pelo sinônimo Qi Gong (Chi Kung), sendo precursor dos métodos do sistema de exercícios taoistas conhecido como TAI CHI CHUAN. Temos ainda outras tradições, dentre as quais a origem do Tai Chi Chuan, de um método praticado por Li Daozi (618-905 d. C.) que se chamaria Xianti Quan ("técnica do céu anterior" - o que precede a criação, o que é nato).
Evoluindo como esporte e exercício filosófico, as Artes Marciais (Wushu) tornaram-se a base para o esforço pelo desenvolvimento intelectual, moral e físico. Em seu estado atual desenvolveram-se centenas de Estilos, executados com armas ou mãos vazias, com ou sem parceiros, sendo adaptados para todos os grupos etários. Os diversos estilos dividem-se em apenas duas escolas: a exterior (exotérica - waijia) e a interior (esotérica - neijia). As duas escolas estão ligadas a dois famosos centros religiosos da China: o Templo Shaolin, centro do budismo chan (zen), e o monte Wudang, centro taoista. As formas exteriores são algumas vezes mais violentas, dando maior ênfase ao trabalho externo, do que ao interno. A escola interior, na qual o TAI CHI CHUAN se enquadra, visa, o desenvolvimento interior, exteriorizando movimentos suaves, graciosos e fluentes, semelhante à dança.
O TAI CHI CHUAN como forma mais difundida entre todos os exercícios interiores, é também uma técnica de autodefesa, significando " técnica de combate à mão descoberta da Suprema Cumeeira ", ou Boxe do Supremo Último. Foi ainda incluído pelos chineses entre as artes marciais (wushu), o Taiji jian, o Taiji dao, o Taiji gun e o Taiji Seen respectivamente, “técnicas da espada, do sabre, do bastão e do leque do Taiji”.
O TAI CHI CHUAN
Envolve a circulação de energia através do corpo e, para se obter uma experiência dessa circulação é necessária uma noção exata dos pontos específicos e dos caminhos ou canais entre esses pontos, ao longo dos qual a energia flui. A fisiologia chinesa utiliza centros de energia como, por exemplo, a Ch'i (qi), ou energia vital, sendo esta uma substância psíquica invisível que somente pode ser sentida no interior do corpo. Ainda quanto os caminhos que transmitem ou armazenam a energia, citamos a utilização nas artes marciais dos oitos canais psíquicos localizados nos braços, nas pernas e no tronco, e, os doze meridianos, que são os caminhos da energia na superfície do corpo e estão conectados aos órgãos internos por caminhos intermediários. O símbolo da alternância, o T'ai Chi T'u pelas transformações do yang do yin interagindo em sua existência, os cinco elementos que se propagam e se transformam (a água, o fogo, a madeira, o metal e a terra), e as quatro estações seguindo o seu curso, são o emblema que representa o ser humano que é uma união de luz e escuridão.
O TAI CHI CHUAN é uma atividade benéfica à saúde, de fácil execução e propicia aos praticantes a flexibilidade necessária para vencer a rigidez, contribuindo para que com a nossa energia venhamos a reciclar os nossos sentimentos, tensões e emoções procurando alcançar uma vida saudável em busca da longevidade.
O Tai Chi se refere a o universo, que se compreende nos termos da interação entre Yin e Yang (positivo e negativo). O principio feminino, Yin, está representado pela Lua, a Terra e a Mulher. O princípio masculino, Yang, simboliza o Sol, o Céu e o Homem. Os oito movimentos principais do Tai Chi Chuan se fazem em correspondência com o Yin-Yang e também, com os cinco elementos: Água, Terra, Fogo, Madeira e Metal.
Chang San Feng, o mestre Taoísta, conta a história que criador do Tai Chi Chuan, viu uma luta entre uma serpente e um pássaro. O pássaro pulando de um lado para outro e piando excitadamente, terminou por cair exausto. A serpente que só fazia esquivar-se do pássaro, logo se preparou e atacou. A partir daí, Chang desenvolveu o Tai Chi Chuan, baseado na suavidade dos movimentos. Este "Boxear com a Sombra", desenvolve o máximo a circulação e a energia interior ou "Chi". Os músculos sempre flexíveis e a respiração natural. Os movimentos são suaves e soltos. O ritmo é lento, mas continuo como o ciclo da Terra. Nada é forçado. Quem o pratica tira vantagem da força do adversário para incrementar a sua própria força. Segundo os adeptos, o praticante de Tai Chi Chuan deve Ter a mente serena e livre de tensões, um refúgio de mansidão em meio ao movimento e ao conflito. Esta calma é considerada como uma força em si mesma, que permite a quem pratica Tai Chi, superar a simples força muscular.
A PRIMEIRA ESCOLA DE TAI CHI CHUAN
Dados oficiais atestam que os primeiros registros catalogados da arte foram feitos há mais ou menos 300 anos, entre as Dinastias Ming e Qing, no pequeno vilarejo de Chenjiagow, no distrito de Wenxian, na província de Henan, e inscritos por mestres de uma das mais antigas famílias tradicionais de Tai Chi Chuan, a família Chen Wangting foi um dos primeiros da família a relatar por escrito as técnicas do Tai Chi, facilitando assim a continuidade dos ensinamentos entre as gerações futuras.
Chen Wangting continuou o ensinamento da arte até antes de sua morte, deixando seus filhos como sucessores e alguns discípulos que deram prosseguimento ao estudo e à prática do Tai Chi, formando a árvore genealógica da família Chen, uma das mais renomadas escolas chinesas.
Originado na área rural, somente a partir de 1852, com a iniciativa de Yang Luchan (1799-1872) o patriarca do estilo Yang, é que o Tai Chi foi introduzido em Beijing, capital do império, de onde começa a popularizar-se, expandindo-se por toda a China. Posteriormente, por obra de seu neto Yang Cheng Fu (1883-1936) que sistematiza o estilo, a escola Yang tornou-se a mais popular e a mais praticada no mundo.
Outras práticas complementares ao Tai Chi são: a meditação, o Xing Yi Quan (Hsing-I Chuen), conhecido como boxe do corpo e do pensamento, e Bagua Quan (ou Pakua Chang) boxe dos oito trigramas.
Escolas e Estilos
A partir da escola mais velha que se tem registro oficial, a escola da família Chen, originaram -se mais quatro grandes escolas, a saber: Escola Yang, Escola Wu, Escola Sun e a Escola Wu Háo -- mais conhecida como escola do Estilo Háo.
Embora hoje trabalhadas como terapia, no princípio também desenvolviam a marcialidade.
Escola Chen
Desenvolvida por Chen Wanting, caracteriza-se por movimentos ágeis rápidos alternados com movimentos fortes e bases baixas. Suas técnicas têm origens tipicamente marciais, objetivando a autodefesa. Esta escola é conhecida como escola da velha estrutura.
Escola Yang
Sistematizada por Yang Cheng Pu (1883-1936), neto do fundador do método Yang Luchan (1799-1872), esta escola se destaca por ter desenvolvido mais tempo ao emprego da saÚde do que da marcialidade. Foi também a primeira escola a ser objeto de pesquisa científica na área da saÚde
A escola Yang é conhecida como Da lia (Grande Estrutura) porque seus movimentos são longos e harmoniosos, enfatizando uma respiração lenta e profunda. Os mestres mais tradicionais ainda ensinam conceitos de marcialidade
Escola Wu (Háo)
Wu Yuxiang (1812-1880), contemporâneo de Yang Luchan, discípulo da família Chen, desenvolveu a escola Wu, também conhecida como escola do Estilo Háo; foi depois popularizada por GuoHáo Weizhen (1849-1920). Conhecida como Xiao Jia (Pequena Estrutura), esta escola desenvolve movimentos ordenados, rápidos, curtos e simples, sendo que na maioria de seus movimentos executa-se abertura e fechamento de braços.
Escola Wu
Criada por Wu Jianquan (1870-1942), discípulo de Yang Luchan, esta escola é uma outra vertente da linhagem Wu. Em seu estilo, trabalha movimentos circulares, posturas equilibradas e movimentos flexíveis.
Escola Sun
Desenvolvida por Sun Lu Tang (1861-1932), discípulo de Guo Háo Weizhen, é pouco conhecida no Ocidente. Seu estilo se baseia em movimentos rápidos e seguros, com muita atuação dos pés. Também é conhecida com o nome de Huobu lia (Estrutura dos Passos Vivos).
Dessas escolas tradicionais existem várias ramificações com subdivisões de estilos.