SISTEMA INTERNACIONAL DE KUNG-FU SHAOLIN NAN
O ESTILO
A verdadeira essência do Shaolin Nan está no Mok Gar Chuen (Mo Jia Quan), um dos estilos mais tradicionais e famosos de Kung Fu, ligado a uma das cinco famílias tradicionais do Sul da China: Família Mok (Mo). Pesquisas históricas afirmam que o templo de Henan (Norte da China) possui grande mérito de ter preservado muitos dos conhecimentos marciais originários da China antiga. Porém, os pesquisadores que fazem tais afirmações observam que no templo de Henan se dava mais importância às práticas da filosofia e da meditação (Ch'an) enquanto que em Fukien (Fujian), no templo Shaolin do Sul, o segundo templo mais importante, os monges davam grande importância às técnicas marciais e estavam constantemente envolvidos nas lutas e nas rebeliões do povo chinês. Documentos do templo registraram a existência de 108 bonecos de madeira, contra os quais todos os discípulos tinham que lutar e vencer antes de sair do monastério, fato mostrado em vários filmes de Kung Fu.
Embora tenha sido em Henan que se criou o estilo Shaolin, acredita-se que foi em Fukien que este se desenvolveu até atingir os elevadíssimos padrões técnicos que lhe deram tanta fama. Quando os Manchus tomaram o poder, a dinastia Ming (1368- 1644 d.C.) foi dizimada e os oficiais do Exército Chinês foram obrigados a fugir para não serem mortos. Iniciava-se, então, a dinastia Ching (1644- 1911 d. C.), durante a qual a prática popular do Kung Fu foi proibida e muitos sobreviventes do governo deposto se ocultaram nos templos budistas por serem territórios apolíticos e independentes do estado chinês. Os templos de Shaolin foram os mais procurados, devido a sua localização privilegiada e às suas grandes dimensões. Tal fato despertou a ira dos governantes manchus que se empenharam arduamente em tentativas de destruir os templos.
O templo de Henan sofreu muitos ataques e, após sua tomada, muitos sobreviventes do fugiram e se instalaram no templo Shaolin do Sul. Este templo abrigou também revolucionários contra o Império Manchu, passando a sofrer várias tentativas de invasão por parte das tropas imperiais. Após muitas tentativas, em 1734 finalmente o templo do Sul foi derrotado. Um monge de categoria inferior, chamado Ma Ning Yee, despeitado por não ter acesso a alguns exercícios que desejava, motivado por vultuosa quantia e pela oferta de um cargo político de relevo, envenenou a água do templo e o incendiou. Assim, as tropas imperiais Ching conseguiram invadir o local. Apenas cinco monges sobreviveram e, por meio destes, o Kung Fu Shaolin disseminou-se junto à população fora dos templos, sendo ensinado na clandestinidade e a partir de então eles se tornaram os cinco mestres de Kung Fu da linhagem de Hung Mun.
GENEALOGIA
Pesquisando, encontramos algumas fontes sobre o estilo que nos asseguram duas gerações antes do mestre Mok Ching Giu, que fundou o estilo com o nome Mok Gar. Existe a possibilidade de antes de Mok Chin Giu aparecer Li Yau Sam, mas ainda não confirmamos oficialmente.
COMO CHEGOU A FAMILIA SHIEN DE KUNG-FU
O estilo chegou ao Brasil trazido pelo Mestre Gilberto Cabral da Costa, quando este retornara dos Estados Unidos da América, em meados de 1986, após ter recebido seus ensinamentos do mestre George Yong (1929-1991). Em 1990, Mestre Gilberto Cabral começa a ensiná-lo ao Mestre Shien, sendo este o único a herdar o estilo em sua linhagem e, após consolidada sua formação, desenvolveu algumas adaptações no sistema, recodificando-o e passando a chamá-lo de Sistema Internacional de Kung-Fu Shaolin-Nan, no âmbito da Família Shien de Kung-Fu.
Da criação do estilo até os dias de hoje, Mestre Shien representa a 10ª geração, mas, vários fatos da linhagem ainda são desconhecidos, pois o sistema Shaolin Nan em si já é uma incógnita devido às suas diversas ramificações.
Como todo estilo de arte marcial chinesa, os estilos praticados na Família Shien de Kung Fu possuem matrizes curriculares que concentram conhecimentos nas áreas de arte, cultura, filosofia e sabedoria oriental, história, medicina tradicional chinesa e, obviamente, no campo marcial. Toda essa gama de conhecimento disponível numa complexa e milenar arte marcial é requisito obrigatório para o praticante de Kung Fu. Em outras palavras, trata-se de um estilo de Kung Fu tradicional, como qualquer outro que carrega o nome e a chancela de uma civilização que soube, como nenhuma outra, praticar a atividade marcial como arte e elevar essa cultura a um patamar de ciência. Um verdadeiro estilo de Kung Fu não se limita ao aspecto luta. Pelo contrário, apesar de ser um item bastante enfocado na arte marcial chinesa, o combate passa para o segundo plano no nível de importância entre seus conteúdos.
Assim, esta arte torna- se admirada e respeitada no mundo inteiro, não por sua eficiência e eficácia na ação marcial, mas, principalmente, pelo poder que oferece a seu praticante para que vença um adversário sem lutar, utilizando- se apenas do valor e do respeito ao oponente, abrindo mão do uso de uma gama de possibilidades que incluem técnicas especiais não encontradas em outras modalidades. Aqui apresentamos o estilo Shaolin Nan, um dos dois estilos oficialmente difundidos pela Família Shien de Kung Fu no Brasil e no exterior, exposto em sua estrutura formativa, com o seu conteúdo descrito conforme será trabalhado no processo de formação de seu praticante.
ESTILO PRINCIPAL
O estilo Shaolin-Nan, na sua essência básica, é composto por conteúdos teóricos e práticos que englobam conhecimentos que vão da arte da caligrafia às técnicas de massagem chinesa, envolvendo domínio em:
1. Facão de Shaolin.
2. Espada reta de Shaolin.
3. Bastão longo de Shaolin
4. Lança de Shaolin.
5. 30 exercícios de Shaolin.
6. Aplicações do estilo principal.
7. Toi Cha.
8. História do Kung Fu.
9. Caligrafia e Língua Chinesa
10. Filosofia chinesa.
11. Massagem chinesa.
12. Chi Kung.
13. Primeiros socorros.
O estilo principal possui cinco formas (taolus) mãos nuas básicas, que dão ao praticante solidez em suas técnicas básicas, preparando-o para os níveis mais avançados:
1. Nan-Tao (Caminho do Sul)
2. Fei Kial Nan (Voando alto para o Sul)
3. Sao Gong/Bei Gong (Trabalho de braços)
4. Ding Du Shenti (Controlando a energia do corpo)
5. Shaolin Chuan (Punho de Shaolin)
SUBTECNICAS (SUBESTILOS)
O estilo principal é complementado por um conteúdo especial, composto por técnicas de armas exóticas e taolus avançados:
1. Forma da Serpente de Shaolin.
2. Forma da Garça Branca.
3. Forma do Louva a Deus.
4. Forma do Bêbado.
5. Forma Punhos de Shaolin.
6. Espada Reta.
7. Espada Reta Dupla.
8. Espada Bêbada.
9. Facão Chinês.
10. Facão Duplo.
11. Bastão Longo Avançado.
12. San Tie Kwan
13. Pu Dao.
14. Kwan Dao.
15. Vara Bêbada.
16. Orelhas de Tigre.
17. Facão 9 Argolas.
PROGRAMA DE FORMACAO
Lembrar que o Kung-Fu não é uma modalidade que se limita apenas ao contexto luta, leva o praticante a renovar sua consciência sobre o trabalho árduo que é “viver a arte marcial chinesa”. Ainda que fosse apenas luta, o Kung Fu ainda assim seria complexo, pois sua parte marcial, diferentemente do que muitos acreditam, contempla todas as vertentes do combate marcial, indo de armas exóticas a técnicas de captura e controle do adversário, inclusive em solo. Mas, além da matriz integral no aspecto luta, nossa modalidade contempla muitos outros conteúdos que completam e são completados pela parte marcial propriamente dita, o que a torna a mais complexa de todas as artes marciais. Praticar a arte marcial chinesa em sua essência, repetimos, em sua essência, significa descobrir o poder que possuímos sobre nós mesmos, o nosso maior adversário.
Por outro lado, aventurar-se a praticar o Kung Fu visando “aprender” algumas técnicas a mais, jamais vai levar alguém a ser um verdadeiro praticante da arte marcial chinesa, o que só ocorre se o treinamento for integral, despido de vaidades como aquelas que iludem os que buscam em várias modalidades o que poderiam encontrar em uma só. Porém, este treinamento integral tem como base uma virtude que nem todos manifestam ou desejam manifestar: a paciência. Esta determina o futuro marcial dos que buscam o Kung-Fu, podendo estes prosseguir no caminho e conhecer o Kung Fu em sua plenitude, ou abrir mão de tal descoberta e procurar outro caminho, normalmente, mais curto.
Este é o Kung Fu, acima de tudo, uma arte, representada aqui pelo estilo Shaolin Nan, no qual cada faixa é sustentada por um conteúdo programático obrigatório a ser cumprido pelo discente, visando à promoção para o nível seguinte. Este conteúdo deverá ser o objetivo do aluno em cada fase em que se encontrar, devendo buscar seu aprendizado e aprimoramento constantes, preparando-se para defender o que aprendeu nas várias avaliações às quais será submetido. A cada faixa conquistada, o praticante deverá treinar com afinco o aprendizado adquirido nos níveis anteriores, enquanto, com a mesma dedicação, desenvolve os novos conhecimentos do nível atual. Desta forma, o discente avança nos estudos sem se desfazer do que aprendeu em níveis anteriores, de modo a tornar-se um exímio artista marcial.
SISTEMA DE GRADUAÇÃO
De modo geral, a formação no estilo Shaolin Nan é dividida em três grandes níveis, com um sistema de graduação composto de 19 faixas, sendo 10 até a faixa preta e, mais nove, após esta, cada uma com os respectivos thuans.
ESTRUTURA DIDÁTICO-ACADÊMICA
O conteúdo formativo dos estilos da Família Shien de Kung Fu está organizado em eixos curriculares, a partir dos quais os diversos conteúdos que compõem a matriz curricular do estilo darão ao aluno a formação coerente com a realidade da arte marcial chinesa. Esta formação visa ao desenvolvimento de virtudes humanas que transcendem o contexto marcial limitado ao aspecto luta, dando ao praticante a oportunidade de se compreender como um ser dotado de qualidades e capacidades que têm como base importantes elementos, como a humildade, a disciplina e o amor à vida.
1. Introdução às artes marciais chinesas.
2. História das artes marciais.
3. Filosofia e pensamento chinês.
4. Ética marcial (Wu De).
5. Arte e cultura chinesa.
6. Conhecimentos sobre o corpo.
7. Conhecimentos básicos em língua chinesa.
8. Formas (Taolu).
9. Treinamento e condicionamento físico.
10. Exercícios, técnicas e aplicações do Shaolin Nan .
11. Sanshou/Sanda
12. Wushu Moderno
13. Chin Na.
14. Shuai Jiao.
15. Chi Kung (Qi Gong).
16. Canais e pontos energéticos.
17. Práticas corporais orientais.
A organização didático-acadêmica do estilo está estruturada conforme a seguir:
1. Formação Geral: De faixa branca a faixa preta.
2. Formação Semiavançada: De faixa preta 1º thuan a faixa preta 3º thuan.
3. Formação Avançada: De faixa preta 4º thuan a faixa preta 10 thuan
O processo de formação do praticante do estilo Shaolin-Nan será desenvolvido em cinco níveis de instrução, sendo Iniciante, Instrutor auxiliar, Instrutor, Professor, Mestre e Grão- mestre. Cada um destes níveis de instrução corresponde a um determinado número de faixas, conforme a seguir:
1. Iniciante: Da faixa branca à faixa amarela ponta azul (3 faixas).
2. Instrutor auxiliar: Da faixa azul à faixa azul ponta vermelha (2 faixas).
3. Instrutor: Da faixa vermelha à faixa marrom (3 faixas).
4. Professor: Da faixa marrom pronta preta à faixa preta 3º thuan (5 faixas).
5. Mestre: Do 4º ao 6º thuan (3 faixas).
6. Grão-mestre: Do 7º ao 10º thuan, último grau do estilo (4 faixas).
Para fins de promoção aos graus correspondentes a cada faixa, o praticante evolui como discente, da seguinte forma:
1. Iniciante: 1 ano, aproximadamente.
2. Aluno: 1 ano e 6 meses, aproximadamente.
3. Discípulo: 2 anos, aproximadamente.
4. Instrutor: 3 a 4 anos, aproximadamente.
5. Professor: 7 anos, aproximadamente.
6. Mestre: De 15 a 20 anos, aproximadamente.
7. Grão-mestre: 30 anos, aproximadamente.